O papel do coordenador pedagógico na concepção do projeto político-pedagógico
José Cerchi Fusari, professor doutor da Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo escreve sobre como a clareza conceitual e
teórica da função do coordenador gera um projeto político-pedagógico
mais eficiente
José Cerchi Fusari
Professor doutor da Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo (USP)
Compreender a essência do trabalho dos educadores que estão na escola
representa um desafio para todos os envolvidos nesse processo,
especialmente para o coordenador pedagógico. Sua atuação tenderá a ser
mais eficaz se ele tiver clareza conceitual e teórica sobre a função da
organização em que está inserido. Para muitos autores, a escola é uma
instituição social na qual ocorrem, de forma intencional e sistemática, o
ensino e a aprendizagem de múltiplos conhecimentos produzidos ao longo
da história. Daí surgem possibilidades de desenvolver atitudes mais
éticas, humanas e solidárias. Só quando entende profundamente isso, o
coordenador consegue se engajar e desempenhar bem seu papel. E aqui
ressalto a importância de sua atuação na formação, contínua e em
serviço, dos professores - algo que é vivenciado baseado na construção
conjunta do projeto político-pedagógico (PPP).
Na prática, seu trabalho se inicia com a compreensão de que o currículo
formal é um conjunto de indicações oriundas da Lei de Diretrizes e Bases
(LDB). Mediante uma leitura crítica da proposta da rede, cabe ao
coordenador manter diálogo com os docentes para construir, em um
trabalho cooperativo, o PPP. O documento se torna então um esforço para
traçar o perfil de aluno que aquela escola se compromete a formar. Mas é
preciso responder a uma questão: "Que humanidade gostaríamos de ajudar a
construir em nossos jovens, uma vez que a escola é um dos espaços em
que eles se formam, mas não o único?"
Na minha experiência como coordenador, quando lidava com um grupo
disperso de docentes, em que cada um cuidava de seu trabalho, utilizava o
recurso da problematização da realidade vivida e sua análise crítica à
luz de teorias da Educação para construir uma dinâmica colaborativa.
Lançava perguntas: qual é a maior finalidade da nossa escola? Onde ela
está localizada? O que caracteriza seu entorno? Quem são nossos alunos?
Como vivem e com quem convivem? Que projetos de vida e trabalho
alimentam? Quais são seus sonhos? E nós, educadores, o que temos com
isso?
Entendo que, se o currículo formal é mais estático - por ser um conjunto
de proposições educacionais legais a serem atingidas -, o PPP deve ser
dinâmico, mutável, vivo e, portanto, contraditório. Para viabilizá-lo,
cabe ao coordenador, com a participação da direção, discutir com os
professores política e pedagogicamente as características sociais,
culturais e pessoais do público que a escola atende. Trocando em miúdos:
o projeto da escola precisa ter o real como ponto de partida e o ideal
possível como ponto de chegada.
É nesse movimento de lidar continuamente com elementos curriculares na
perspectiva democrática e emancipatória que se encontra a especificidade
do trabalho do coordenador pedagógico. Sua missão equivale à de um
maestro. Em vez de músicos, ele rege professores para que esses repensem
os princípios e objetivos educacionais, reconstruam os conhecimentos
curriculares, revejam os critérios de avaliação, reinventem os modos de
interação entre o educador e o educando e recriem os métodos de ensino
intra e extraescolares. É desse modo que sua atuação contribui
efetivamente para a escola cumprir sua função.
http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/coordenador-pedagogico/papel-coordenador-pedagogico-concepcao-projeto-politico-pedagogico-629895.shtml
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